Movimento pela Legalização da Canábis

2006-11-25

Polícia traficava cocaína

Um elemento da PSP de Faro, em licença sem vencimento, e o proprietário de uma empresa de transportes de Loures foram detidos, no último fim-de-semana, suspeitos de integrarem uma organização criminosa ibérica que se dedicava ao tráfico de cocaína. A PJ apreendeu no armazém do empresário um contentor com dez toneladas de toros de madeira, onde estavam “habilmente dissimulados” 62 quilos de ‘coca’.
Na sequência de uma investigação – em que a Direcção Central de Investigação do Tráfico de Estupefacientes da PJ e a Guardia Civil espanhola trabalhavam há mais de um ano – foram detidos mais sete suspeitos, entre os 32 e os 72 anos, na região de Alicante, Sul de Espanha, onde estava a sede da organização.

A PJ acredita que o contentor apreendido seria um teste à rota por via marítima, depois de a organização ter lucrado com dezenas de ‘correios’ que traziam cocaína do Peru e Brasil. “A rede começou a operar através dos ‘correios’. O elemento de uma força de segurança portuguesa detido era responsável pelo recrutamento”, disse o inspector-chefe Luís Baptista.

Depois de várias transacções em que ‘correios’ portugueses, holandeses, peruanos, brasileiros e espanhóis foram pagos para trazer cocaína para o País – que seguia por via terrestre para o Sul de Espanha –, a rede decidiu mudar o ‘modus operandi’.

De uma forma muito original, concebida pelos peruanos, “que são peritos em dissimular droga”, segundo o inspector-chefe, a rede fez um primeiro teste. “O primeiro contentor trazia apenas madeira. Viram que resultava e mandaram com droga.”
Portugal seria apenas um ponto de passagem para a cocaína, que seguia para o mercado espanhol, nomeadamente para a zona de Alicante – onde estava a sede da organização. Foi nesta zona que a Guardia Civil deteve os restantes suspeitos, de nacionalidades espanhola, argentina e suíça.

No armazém onde foi colocada a droga, em São Sebastião de Guerreiros, na localidade de Moninhos, concelho de Loures, a Judiciária apreendeu ainda uma retroescavadora furtada no valor de 75 mil euros e vários documentos e registos informáticos que vão permitir prosseguir a investigação.

O polícia detido, um homem de 37 anos, tirou uma licença sem vencimento há cinco anos. Nem ele nem o empresário que se dedicava ao transporte de produtos alimentares tinham antecedentes criminais. Ainda assim, aguardam julgamento em prisão preventiva.

A organização providenciava várias viagens com diversos destinos para os ‘correios’ despistarem as autoridades. A PJ recorda que ao longo da investigação ainda foram detidos seis ‘correios’ em Amesterdão, Lima, Barcelona e Lisboa com 34,5 kg de cocaína.
DISSIMULADA EM MADEIRA
O método utilizado para dissimular os 62 quilos de cocaína apreendidos era ainda desconhecido da Judiciária. Os 20 barrotes de madeira foram furados com uma ferramenta concebida para o efeito. “Foram feitas aberturas nas partes laterais dos barrotes, com dois metros, com uma broca especial”, explicou o inspector-chefe Luís Baptista. Em cada um dos lados foi introduzido um “cilindro de cocaína”. As partes laterais dos barrotes foram, depois, tapadas com uma cunha de madeira que dificilmente faria adivinhar que o barrote tinha sido furado. As dez paletes de madeira foram colocadas num contentor e embarcadas com destino a Portugal.

“É uma madeira própria para mobiliário”, disse o inspector-chefe. A mudança do ‘modus operandi’ da rede criminosa revela uma sofisticação da organização. Antes, recorriam a ‘correios’, que traziam a droga no corpo, nas malas, impregnada na roupa, ou em estado líquido. Muitos deles foram apanhados pela Polícia antes de chegarem com o produto ao destino.

Notícia em: Correio da Manhã

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