Movimento pela Legalização da Canábis

2006-11-25

Opinião: O que é que a canábis tem?

Hoje há folhas de canábis nas capas da imprensa diária por causa do anúncio do relatório de 2006 do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência (OEDT). Ele vem confirmar a tendência dos anos anteriores: o preço das substâncias adquiridas no mercado ilegal (haxixe, ecstasy, LSD, cocaina, heroína, etc.) continua a baixar, indiferente ao aumento das apreensões.

E estes dados ainda não têm em conta a produção recorde de heroína no Afeganistão nos últimos dois anos, que promete trazer de novo aquele opiáceo para a moda nas cidades europeias e até já levou o responsável da ONU pelo [fracasso do] combate à droga, o italiano António Maria Costa, a apelar à NATO para que bombardeie os campos onde crescem as papoilas...

Longe dos índices europeus de popularidade do consumo de drogas, o caso português continua a ser o mais preocupante no que respeita às infecções com HIV e hepatites entre os consumidores de drogas injectáveis, estatísticas onde o nosso país parece ter lugar cativo no topo da tabela.

Isto só prova a insuficiência das medidas de redução de danos e o atraso em relação ao que se faz noutros países da UE. Basta lembrar o plano de troca de seringas no meio prisional, já adoptado em 27 cadeias espanholas e que aqui continua a ser visto como uma medida "fracturante" em fase experimental.

Mas então o que é que a canábis tem a ver com isto? Ela ocupa um lugar destacado desde a última metade do século passado nas preferências dos europeus: calcula-se que um em cada cinco já a experimentou ao longo da vida. A canábis é usada há alguns milhares de anos para fins recreativos, tratamentos medicinais ou rituais religiosos sem que até hoje haja notícia que tenha morrido alguém por isso.

O facto do consumo de erva ou haxixe ser tão generalizado, ao ponto de atravessar gerações, e das consequências do seu consumo moderado para a saúde ser comparável ao do tabaco ou do álcool são circunstâncias que aconselhariam uma regulação do mercado, para evitar a proximidade deste consumo ao das substâncias chamadas mais "pesadas" como a heroína.

A legalização e regulação da venda dos derivados da canábis é um passo importante para definir uma nova política para a toxicodependência e inverter a estratégia moralista e diabolizadora da "guerra à droga" que já provou ser um desastre, ao distinguir a perigosidade das substâncias para a saúde pelo seu estatuto legal actual.

Não é por acaso que os defensores da política de slogans do tipo "a droga mata a juventude", são os mesmos que aplaudem o patrocínio de uma cervejeira à selecção de futebol, supostamente um exemplo de vida sem drogas para essa mesma juventude.

A hipocrisia é muita, mas que culpa tem a planta?

Artigo de Luís Branco
Notícia em: Esquerda.Net

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