Movimento pela Legalização da Canábis

2006-06-02

Reportagem da Revista Época

Empresários, médicos, advogados, profissionais e artistas assumem o uso de maconha

Beto lago, de 32 anos, empresário
Há quatro anos, fumo baseado misturado com tabaco normal. Comando o Mercado Mundo MIX em 14 cidades – um negócio que dá 3.500 empregos indiretos por mês –, coordeno uma revista, faço projetos de marketing. É uma rotina estafante e preciso de algo que me relaxe. Não bebo. A maconha me dá tranqüilidade. Fumo na frente da minha mãe, que já entende que não é algo do outro mundo. Roberto Setton/ÉPOCA

Pedro Aguiar Angeli, de 21 anos, cartunista e músico
Experimentei aos 11 anos, com um primo. Quando meus pais souberam, levei um sermão. Achei bom, é importante ter alguém para deixar a gente ciente de que há perigo. E o grande perigo é o exagero. Fumei apenas uma vez com meu pai, na casa de um amigo dele. Foi estranho. Imagine todo mundo fumando numa casa, é desordem, é desrespeito. Não acho que a maconha deva ser totalmente legalizada, mas descriminalizada. Maconha é apenas algo para se sentir bem.

Angeli, de 45 anos, cartunista
Fumo desde os 12 anos e acho que os meninos de hoje que fumam devem abrir para os pais, mesmo que a reação seja contrária. É mais fácil lidar com a verdade. Com meu pai foi assim. Ele ainda acha que é coisa do diabo, mas quando descobriu soube que eu tinha cacife para entrar e sair. Com meus filhos é tranqüilo. Converso com eles, conto histórias de amigos que se deram mal. Eu nunca quis parar, só quis me educar para usar de maneira limpa e prazerosa. Maconha é apenas para relaxar. Luludi/ÉPOCA

Patrícia Gomes, de 42 anos, dona da grife Armazen Brasil
O baseado é meu chá das 5, para o cair da tarde. Fumo desde os 18 anos, nunca parei de trabalhar e jamais escondi isso de meus filhos – um de 23 anos e outro de 17. Ambos não gostam de fumar. Eles nunca me viram chacoalhando um copo de bebida com gelo, caída no sofá. Acordo todos os dias às 6h30, caminho e sou uma mulher realizada como mãe e na profissão. É preciso acabar com essa idéia de que todo mundo que fuma é sujo, bandido e leniente. Roberto Setton/ÉPOCA

Otto Maximiliano, de 33 anos, músico
Aos 15 anos fumei meu primeiro cigarro de maconha nas escadarias da Igreja do Alto da Sé, em Olinda. Cheguei em casa e disse para minha mãe. Ela nunca reprimiu, por isso jamais me senti um viciado, um bandido. Já fumei mais. Agora uso a maconha para coroar momentos de felicidade. Mas também gosto de fumar com meu sogro, enquanto conversamos sobre a vida. Minha mulher não fuma. Espero que para meu filho a maconha não seja uma droga proibida.

Jairo Jordão Arcoverde, de 61 anos, artista plástico, sogro de Otto
Comecei a fumar no final da década de 50. Naquele tempo, era coisa de marginal. Mais tarde entrou na moda. Nunca parei de fumar. Fumo todos os dias, em geral em meu ateliê, antes de pintar. Tenho cinco filhos, que sabem que fumo. Mas eu não os incentivo, assim como espero que não fumem cigarro e não bebam em excesso. Jamais tive problemas de saúde por isso, mas sei que maconha pode viciar. Só acredito que cabe a cada um decidir se quer usar.

Rogério Rocco, de 34 anos, advogado
Comecei a fumar aos 17 anos, depois de assistir a um show de Raul Seixas, em São Paulo. Defendo a legalização não apenas pelo usuário, mas pelos que não usam droga nenhuma e são afetados pela violência do tráfico. Nunca fui dependente, já fiquei quase um ano sem fumar, simplesmente por estar envolvido em trabalhos que me exigiam muita concentração. Nunca fumo antes do trabalho. Mas é ótimo dar uns tapinhas depois de um dia estressante, porque relaxa.

Dominique Lurton, de 38 anos, neurologista
Fumo maconha desde os 15 anos. Hoje, só à noite, com amigos. O fato de ser neurologista e saber dos efeitos dela no cérebro me leva a filosofar antes de um baseado. Sou a favor do uso medicinal para aliviar a dor dos pacientes. Sou pragmático: se os médicos têm um mínimo de compaixão devem receitá-la.

Fonte: Centro de Mídia Independente do Brasil