Movimento pela Legalização da Canábis

2006-08-23

Grândola Vila Loira

Hippies agitam Alentejo

Arnold, 65 anos, “velho e assumido hippie”, mora num monte de acesso muito difícil. As manchas nas mãos indiciam cancro de pele. Nos ossos uma rara doença que quase não o deixa andar. “Acabaram-se os tempos da águia. Agora, como dizem os alentejanos, são tempos de condor; com dor aqui, com dor ali”.

Nos idos anos 60, “estudante político de longos cabelos e barbas”, fartou-se do capitalismo e das grandes cidades. “Quando se deu Chernobyl, vivia, com a mulher e dois filhos pequenos, na afectada floresta da Baviera. No ar sentia-se a dureza da poluição atómica.” Decidiram partir para Oeste, rumo a Santa Margarida da Serra, onde está até hoje. “As pessoas quiseram saber se eu era boa pessoa e trabalhador. Tive que aprender a tirar cortiça dos sobreiros ao lado deles. Muito duro. Até cortei os cabelos para parecer mais português.” A intensidade do brilho azul celeste do olhar e o espírito livre e descomprometido desfazem quaisquer dúvidas. É pele, osso e serenamente feliz.

Escolheu o Alentejo porque “queria um lugar sossegado, com paz, bom ar, água e, muito importante, barato”. Emprestaram-lhe uma casa – hoje em ruínas – num monte. A dona expulsou-os. “Dizia que éramos porcos.” Arranjou outro monte emprestado e de lá nunca mais saíu. “Os portugueses dão tudo, desde que se lhes peça.” Bebe água da fonte, em casa tem energia solar, faz muito tempo que não vê televisão. Há um ano comprou um telemóvel e foi, sem dúvida, “uma autêntica revolução”.

Na aldeia há quem goste de Arnold mas também há os que não lhe perdoam o facto de fumar marijuana. Eles sabem, eu sou pela legalização da canábis”. Fuma desde os 30 anos, “boa altura para começar pois já se é consciente”. A polícia apanhou-o com o charro na boca. “Seis vezes que me cortaram as plantas. Uma vez vieram aqui umas 30 pessoas da bófia. Levaram-me preso. Tinha que me apresentar todas as semanas, fizeram-me um processo. Um ano fui absolvido porque o Papa veio a Fátima; outra vez fui amnistiado por causa dos 25 anos da Revolução do 25 de Abril; na última vez que vieram tive que pedir dinheiro à minha família, que é muito rica, – “eu sou a ovelha negra” – para pagar mil euros de multa”. Há três anos deixaram de o incomodar.

Há quem admire a coragem e o despojamento de gente como Arnold. Gente que se desvincula da sociedade para viver num mundo em que não é preciso quase nada para sobreviver. Gente que, apesar das tentativas, nunca consegue visto de residência. “Queriam dinheiro por fora mas eu não tinha para lhes dar.”

Mesmo assim não troca este lugar por nenhum outro do Mundo. “De certeza que vou morrer aqui”. O ar ajuda a viver sem movimentos de cartão multibanco. São pouco empreendedores e a sua presença não alterou a economia da região. São hóspedes passivos e recatados que deram um outro colorido a estes montes.

MOVIMENTO DA CONTRACULTURA
TUDO PELO BEM-ESTAR DA ALMA

Os hippies fizeram parte do que se convencionou chamar “movimento de contracultura dos anos 60”. Adoptaram um modo de vida comunitário ou nómada, negaram o nacionalismo, abraçaram aspectos de religiões como o budismo, manifestaram-se contra a guerra ou os ditames do capitalismo.

Optaram sempre por viver em comunidades onde cada membro exerce uma função, as decisões são tomadas em conjunto, normalmente é praticada a agricultura de subsistência e o comércio entre os moradores é realizado através da troca. São adeptos do pacifismo e privilegiam o bem-estar da alma e do indivíduo.

Texto de José Manuel Simões e Fotografia de Marta Vitorino

Artigo completo: Correio da Manhã

1 Comments:

At 25/08/2006, 21:44:00, Blogger de Matos said...

Bom fim de semana :)

 

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